Minha Vidraça


“Nem sempre ser a mais esperta te faz a mais feliz”

Nem sempre ver com clareza as coisas, o tempo todo, é o ideal para ser feliz. Confuso? Nem tanto, vamos lá.

Começo me imaginando sentada na minha linda e confortável poltrona em frente à minha linda vidraça, onde recebo dela claridade, anoitecer, dias de sol, temporais, enfim, a vida que acontece. No final do meu dia me sento em frente à imensa vidraça e analiso, sinto, percebo como foi meu dia, as pessoas que me circulam, enfim.

Você nem vai acreditar, mas adoro quando minha vidraça está meio embaçada, com milhões de gotas salpicadas nela, uma certa neblina londrina, muito leve...

Que benção!

Quando isso acontece, as maldades alheias passam despercebidas, vejo turvamente quem quis me machucar e, o melhor, o bom, as pessoas especiais, as atitudes iluminadas, os acontecimentos incríveis, se fazem ver, chegam perto do meu ‘escudo embaçadinho’ e pulam, batem na vidraça, vejo mãozinhas que desesperadamente limpam meu vidro e gritam: oieee, estamos juntos! Prazer incrível, achar pontos de luz atrás da minha vidraça embaçada.

Mas olha só, acontece que existem dias que me sento no meu ninho em frente à vida e ... a vidraça está limpa! Exageradamente limpa, translucidamente limpa. Tudo lá fora tem uma nitidez dolorosa, vejo detalhes incríveis.

Nossa, porque aquela pessoa que eu adoro esperou eu virar as costas para falar de mim? Eu estou vendo direito ou aquela atitude foi apenas maldosa? Sem desculpas, a janela está muito limpa. Que droga, é isso mesmo.

O bom, o super bom, é que os pontos de luz, as pessoas incríveis, os acontecimentos mágicos que via da minha linda vidraça embaçada, agora estão ainda melhores, sim, é tudo verdade! Os vejo claramente! Ufa, alívio, nem tudo é decepção. O mundo é bom, as pessoas são sinceras, eu amo, sou amada...enfim, minha vida é pura emoção.

Agora quando acordo, vou viver. No final do meu dia me sento em frente a minha imensa vidraça. Há dias em que as gotas de chuva na janela me confundem um pouco, e existem dias, abençoados dias, em que da minha poltrona olho para à vida e uma neblina londrina se faz presente.

Vejo as coisas sim, mas as maldades me passam despercebidas, os olhares nem tão bons se perdem e eu... percebo que nem sempre é bom ter a minha vidraça muito limpa, apesar de que às vezes isso se torna imprescindível.

Viver é emocionante!
E eu... não vejo a hora de olhar através da minha vidraça da verdade, você sabe, a verdade do dia. O que vou descobrir hoje?

Todo os dias me pergunto: prefiro os dias limpos de sol onde vejo e percebo tudo? Prefiro os dias londrinos onde algumas coisas não percebo? Desculpe, mas hoje vou terminar meu texto com a seguinte resposta. Ainda não sei!

A única certeza é que sentar em frente à minha imensa vidraça sempre será uma experiência enriquecedora. Descobrir ou não as coisas...não se trata disso. O lance, a verdadeira diversão é o ato de extrema coragem de sentar-se ali e observar!

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